quinta-feira, 28 de abril de 2011

Formoso Galego




O galego apeia o cavalo. Traz ás costas a viola, sua companheira de todas as horas. Olha a seu redor e sente uma agradável sensação de prazer. Caatinguinha parece está a sua espera. O vilarejo é o seu xodó. Apegou-se aquelas ruelas de chão batido com suas casas pequenas e aconchegantes.

Ri de satisfação enquanto passa as mãos na cabeleireira loura tão apreciada pelo mulherio. Sem falar na força do seu olhar em que passeia sorrateiro um belo par de olhos azuis envolventes.

O corpo bem torneado , distribuído nos seus quase dois metros de altura lhe dá a imponência dos deuses do Olimpo. Só que naquele sertão bravo de homens labutadores, a presença do galego trás certo desconforto.

Nando, o famoso galego! A perdição da mulherada. Mas, pudera. Com tanta exuberância fica impossível segurar os suspiros femininos.Que o diga Bastião. Vai ser difícil segurar a sua Formosa Maria. Affe, coitado !?

Apesar dos desafetos devido a sua presença vistosa, o bonitão conquistou os moradores de Caatinguinha. O moço é conhecedor das letras.É doutor dos bichos. Ajuda a cuidar dos animais sem cobrar nenhum tostão . Problema maior é que a mulherada teima em querer se consultar com o galego de qualquer jeito.Duro é desfazer tamanha confusão.

Formosa Maria ajusta mais uma vez o vestido sob o olhar investigativo de Bastião.O homem está inquieto. A notícia da chegada de Nando lhe traz más recordações.

Sabe de suas fraquezas. Não consegue resistir aos dengos das morenas.As investidas das belezuras são tentadoras. Resultado é que sua Maria não deixou barato tanta pulação de cerca. Acabou se envolvendo logo com o bonitão da capitá. Eitá galhada feia!

Nando pega a viola e dedilha os primeiros acordes. O bar do compadre Onório está repleto. A mulherada se espreme para ouvir o moço. Os suspiros são notados quando a voz do bonitão invade o local. Um burburinho masculino se faz ouvir por alguns instantes para silenciar após reclamação de comadre Serena, plenamente apoiada pelas ouvintes afoitas!

O silencio do local é quebrado pela entrada triunfante de Formosa Maria.A mulata com seus olhos verdes fascinantes provoca cochichos despeitados na ala feminina. Ciente de seus atrativos, Formosa desfila, remexe as cadeiras propositadamente.

Nando olha, ri....,.....gosta! -“Nossa...que tentação de mulata...”- pensa enquanto lança um acorde mais vibrante em sua viola!

Bastião toma mais um gole de pinga. Compadre Onório, solidário, fala-lhe com seu sotaque português carregado

- Pós, pós, Compadre Bastião, não te apoquentes,vá a se divertir homem!

Bastião lança-lhe um sorriso amarelo. Sabe que o amigo apenas tenta lhe aliviar a pressão do momento.

Compadre Onório continua.

- Olhe, tu sabes que Maria sempre gostou de Nando.E tu....andaste facilitando as coisas entre os dois.

- Oxe ,cumpadre, e eu num sei disso! Tô querendo num me alembrar.

De repente a viola para de tocar. Bastião vira-se a tempo de ver Nando e Formosa Maria saírem. Seu coração palpita, seu rosto empalidece, suas mãos transpiram-“Danou-se, agora sou corno declarado”-pensa.

Os minutos se arrastam, e nada de Maria e Nando retornarem.Bastião pede mais uma pinga para o compadre Onório que mais uma vez lhe aconselha:

- Bastião, logo, logo, tua Maria estará de volta. A noite é longa...

Assim que compadre Onório acaba de falar o som da viola se faz ouvir outra vez.Bastião se volta e para sua surpresa encontra Maria ao seu lado.

Sorridente a mulata lhe diz:

- Vixe home..que cara é essa!?

Bastião passa as mãos pela sua cintura e indaga:

- Onde tu foi cum Nando?

Maria suspira, passa as mãos pelos cabelos enquanto responde maciamente

- Ora...fui pedir uma música.

Faz-se silêncio por alguns instantes. Pensativo, Bastião prossegue.

- Formosinha....prá pedir uma música tu demorou demais.

A mulata acaricia o rosto de Bastião. Dá uma risada debochada.Após um longo suspiro responde:

- Oxente, home,Nando não sabia a música não .

- Vixe!E daí minha lindinha?

Os olhos verdes de Maria brilham quando ela fala a Bastião:

- Daí home de Deus, é que fui ensiná a música a Nando.

- Maria,foi tempo demais pra ensiná uma música só.

- Oxe,Bastião, a música era grande por demais.

- E Nando, aprendeu?

- Aprendeu direitim.

-Agora deixe de trololó e vamo escutá a música que ensinei a ele, visse?

Bastião se deixa levar pela mulata. Não adianta prolongar essas indagações. Sua consciência, porém, o acusa.Relembra as muitas músicas que ensinou as suas morenas em noites calorosas, regadas por cochichos ousados que lhe causavam prazerosos arrepios.

-” O melhor mermo, - pensa com certo alivio - é que Nando vai embora cedinho, ao raiar do dia....então tudo volta ao normá, sua Maria esquece o bonitão e volta pra seus braços”....Decidido , dá um cheiro ardente no pescoço de Maria embalado pelo canto forte do bonitão da capitá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário